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O Guia do Periodonto: o que é, anatomia e função

O periodonto é o conjunto de estruturas que envolvem os dentes, oferecendo o suporte necessário para manter eles em sua função.
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Marvin Guedes

Escrito e revisado por Marvin L. Guedes — Estudante de Odontologia no 8º Sem.

Devido ao dente ter um certo protagonismo quando se trata da saúde bucal, muitos dentistas e estudantes acabam negligenciando o periodonto e sua anatomia, que culmina por ser um dos elementos mais importantes para o bem-estar bucal, sendo responsável pelas funções de proteção e suporte dos nossos dentes.

Nesse guia, vamos discutir sobre todos os pontos que abordam o periodonto, como sua anatomia, funções, estruturas e características.

Sumário

O que é e o que compõe o Periodonto?

O periodonto é o conjunto de estruturas que envolvem os dentes, oferecendo o suporte necessário para manter eles em sua função. Ele é composto por quatro estruturas principais:

  • Epitélio gengival: estrutura mais superficial que recobre o osso alveolar e o cemento radicular;
  • Ligamento periodontal: é uma estrutura fibrosa que conecta o cemento radicular ao osso alveolar;
  • Cemento radicular: camada de tecido calcificado que cobre a raiz dos dentes;
  • Osso alveolar: é a estrutura óssea que forma a base da cavidade oral.

Embora tenham localizações e composições que se diferem, todas as quatro estruturas atuam para manter a mesma unidade em funcionamento, e por isso, quando qualquer uma dessas estruturas sofre algum tipo de alteração devido a patologias, os outros componentes do periodonto acabam por também sofrer implicações em suas funções. (1)

Anatomia do Periodonto
Estruturas que constituem o periodonto

Função do Periodonto

A principal função do periodonto é manter os dentes protegidos de agentes prejudiciais externos e garantir a sua sustentação. Em suma , ele ajuda a proteger as raízes dos dentes, amortecendo as forças de mastigação e prevenindo fraturas, e servindo como barreira protetora contra bactérias e outras substâncias que podem culminar em patologias na gengiva e nos dentes.

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Epitélio Gengival

O epitélio gengival possui muitas funções, sendo elas: servir como barreira física de proteção a organismos e infecção, servir de inserção para a gengiva subjacente e , de acordo com pesquisas recentes, também vai possuir um papel ativo na defesa imune, ajudando na resposta e sinalização imune quando há a entrada de bactérias no epitélio, por exemplo.

Ele vai se dividir em três tipos:

  • Epitélio oral externo: é a parte do epitélio que é voltada para a cavidade oral, e é constituído pela gengiva marginal (ou livre), inserida e interproximal.
  • Epitélio oral do sulco: é a região voltada para o dente, sem entrar em contato direto com o dente.
  • Epitélio juncional: é uma das regiões mais importantes do epitélio gengival, e é uma região que tem como função promover o contato da gengiva com o dente.

Todos esses três tipos de epitélio atuam na mesma função, que é atuar na homeostase da boca e no sistema de defesa.

Gengiva marginal

A gengiva marginal, ou livre, é a porção da gengiva que recobre a coroa dos dentes. Ela é composta por um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, que é uma camada de células que revestem a superfície externa da gengiva e é responsável pela proteção contra lesões, infecções e outros agentes agressores.

Quando alguma patologia atinge a gengiva, é comum ela ficar inflamada, e o principal ponto de sangramento e edema vai ser localizado na própria gengiva marginal.

A gengiva livre também tem como função proteger os dentes e os ossos da cavidade oral, além de fornecer uma vedação hermética ao redor do dente. Ela é separada da gengiva inserida através da ranhura gengival.

Gengiva inserida

A gengiva inserida é a porção da gengiva que se inicia logo abaixo da ranhura gengival da gengiva marginal, e vai até a mucosa alveolar, sendo conectada ao periósteo . Ela é composta por um epitélio estratificado pavimentoso que varia entre queratinizado e paraqueratinizado, o que dá a ela uma característica firme e resiliente à danos mecânicos.

Uma das suas principais funções é ser responsável por proteger os dentes e os ossos da cavidade oral, fazendo dela um importante componente do que chamamos de periodonto de proteção.

Ela vai possuir uma textura firme, rosa e, assim como a gengiva marginal, pode possuir um aspecto de casca de laranja em indivíduos saudáveis devido as inserções das fibras conjuntivas.

Gengiva interproximal

A gengiva interproximal é a porção da gengiva que fica entre dois dentes adjacentes. Ela é composta por um epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado e tem como função proteger os dentes e os ossos da cavidade oral, o que a torna componente do periodonto de proteção.

A gengiva interproximal também tem uma função estética importante, pois é a parte da gengiva que forma o triângulo negro, ou o “col” entre os dentes. Ela é separada por um espaço interdental, que é a região entre os dentes.

Epitélio do sulco

Também conhecido como epitélio sucular, ele vai ser a parte do epitélio gengival que vai estar entre o esmalte e a camada superior da gengiva marginal (ou livre), mas sem possuir nenhum contato direto com o dente. Seu epitélio possui células cúbicas e é estratificado pavimentoso com superfície queratinizada.

Suas características principais são:

  • Mesmo sendo menos permeável que o epitélio juncional, ele ainda pode servir de membrana semipermeável, permitindo a passagem de alguns patógenos;
  • Ele é mais espesso na região coronária;
  • Possui cerca de 0,69 mm, podendo variar de pessoa para pessoa.

Epitélio juncional

Como dito anteriormente, o epitélio juncional vai promover o contato do dente com a gengiva, e assim como o epitélio do sulco e do oral, está sempre em renovado por meio da divisão celular da camada basal.

Algumas de suas principais características são:

  • Vai afunilando da região coronária para a apical;
  • Em tecidos saudáveis, o epitélio juncional vai se localizar na junção cemento esmalte;
  • Possui baixo poder de proteção ao biofilme que vem do sulco gengival;
  • Uma de suas funções é permitir o acesso do fluído gengival, células inflamatórias e componentes imunológicos para a gengiva marginal;
  • Suas células possuem rápida renovação, fazendo isso entre 6 a 7 dias;
  • Possui capacidade endocítica: faz a captura, isolamento e degeneração de restos celulares e agentes microbianos.

Ligamento Periodontal

O ligamento periodontal é uma estrutura fibrosa que conecta o cemento radicular ao osso alveolar. Ele é responsável por amortecer as forças de mastigação e ajudar a manter os dentes firmes na boca. Além disso, o ligamento periodontal é responsável pela nutrição do cemento radicular e do osso alveolar.

Essa fibras vão se organizar em seis grupos, aos quais são:

  • Fibras transeptais: estão presentes na interproximal dos dentes, e se insere no cemento de um dente para o cemento do dente adjacente. Como ela não tem contato com o osso alveolar, ela é considerada uma fibra gengival;
  • Fibras da crista alveolar: essas fibras vão se estender de maneira obliqua do cemento até a crista óssea alveolar. Mas as vezes também podem passar por cima da crista e se inserir na camada do periósteo que recobre o osso alveolar;
  • Fibras horizontais; se estende de maneira perpendicular do cemento do dente até o osso alveolar;
  • Fibras obliquas; vão ser as fibras de maior quantidade, e vão se estender de maneira obliqua do cemento para o osso alveolar. Assim como o grupo de maior quantidade, ele também vai desempenhar uma função importante, que é a de suportar os impactos das forças oclusais e transformar em tensão para o osso alveolar;
  • Fibras apicais; vão se estender de maneira apical e irregular do cemento até o osso alveolar, na parte do fundo do alvéolo. Por esse motivo, não vão ser encontradas fibras apicais em dentes que ainda estão em formação;
  • Fibras inter-radicular: assim como o nome diz, são fibras que vão se estender em forma de leque a partir do cemento até as áreas de furca nos dentes com mais de uma raiz.

Cemento Radicular

O cemento radicular é uma camada de tecido mineralizado, calcificado e avascular, que reveste a superfície radicular do dente. Ele é dividido entre dois principais tipos, o cemento radicular celular (primário) e o cemento radicular acelular (secundário).

Assim como outros tecidos mineralizados, os seus dois tipos vão se constituir de matriz interfibrilar calcificada e fibras colágenas, que vão se embutir em uma matriz orgânica.

A fonte dessas fibras colágenas que o cemento possui vão ser principalmente das fibras de sharpey, que são produzidas por fibroblastos e possuem as suas extremidades inseridas no cemento e no osso alveolar. Graças a essas fibras presentes no cemento radicular acelular, ele se torna um importante elemento no periodonto de sustentação, pois vai por meio dele que vai acontecer a conexão do dente com o osso alveolar.

Processo Alveolar

O processo alveolar, ou como também é chamado, o osso alveolar, vai ser a porção da maxila ou mandíbula que forma os alvéolos dos dentes e dão o suporte a sua sustentação. Ele vai se formar durante a erupção dentária, e – enquanto não houver algum tipo de alteração patológica – vai existir até o momento da perda do dente em questão, que é o momento em que ele vai gradualmente desaparecendo.

Logo, o processo alveolar vai se consistir em:

  • Uma porção externa de osso cortical;
  • Uma parede interna formada por um osso fino e compacto;
  • Trabéculas esponjosas, que vão ser encontradas entre as duas camadas de osso citadas anteriormente, e vão ser responsáveis por sustentar o osso alveolar.

O processo alveolar, em conjunto com as outras estruturas do periodonto de sustentação – que é o cemento radicular e o ligamento periodontal – vão constituir o aparelho de sustentação e inserção dos dentes, que vai ter como função a distribuição das forças oclusais geradas pela mastigação e outros contatos dentários, como os que acontecem na parafunção oral.

Histologia do Periodonto

Como dito anteriormente, o periodonto é feito de várias estruturas, e para explicar melhor sua histologia, é necessário separar ela em alguns tópicos.

Histologia do Epitélio Oral

Como o epitélio oral é feito de um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, boa parte de suas células (cerca de 90%), vão ser células produtoras de queratina. Mas resumir sua histologia dessa forma seria um erro enorme, já que os outros 10% também são células extremamente importantes para o seu funcionamento. (2)

Essas células são:

  • Queratinócitos: são cerca de 90% de todas as células do epitélio oral, e vão ter como função produzir a queratina, uma proteína fibrosa que vai impermeabilizar e fazer da epiderme uma camada de proteção.
  • Células de Merkel: presentes na camada basal, as células de Merkel vão possuir uma função de sensibilidade.
  • Células de Langerhans: são células que atuam no sistema de defesa do epitélio, reagindo a antígenos que o penetrarem. Essas células vão ser responsáveis por produzir uma resposta imunológica inicial, impedindo que esses antígenos atinjam camadas mais profundas.
  • Melanócitos: Como o nome diz, são células responsáveis por produzir a melanina, que traz a proteção do epitélio aos raios UV.

Tecido conjuntivo da Gengiva

Também conhecido como lâmina própria, o tecido conjuntivo da gengiva vai ser dividido em camada papilar, que é adjacente ao epitélio, e a camada reticular, que é contígua ao periósteo do osso alveolar adjacente.

  • Camada papilar: é um tecido conjuntivo do tipo frouxo que vai ter papilas com função de aderência ao epitélio;
  • Camada reticular: é um tecido conjuntivo denso não modelado, e vai ser basicamente o tecido conjuntivo propriamente dito. Ele vai ser bem mais espesso que a camada papilar.

Compartimento extracelular

Além dessas duas camadas, esse tecido conjuntivo vai ser composto por um componente celular e um compartimento extracelular. Assim, os principais componentes dele, com base no volume, serão:

  • Fibras colágenas (com mais ou menos 60% do volume);
  • Fibroblastos (5% do volume);
  • Vasos, nervos e matriz (cerca de 35% do volume).

Fibras do tecido conjuntivo

Esse tecido conjuntivo possui três tipos de fibras, sendo elas:

  • Fibras colágenas: assim como o nome diz, são feitas de colágeno, o que garante a elas uma característica grossa e resistente, impedindo o tecido de rasgar quando esticado;
  • Fibras reticulares: são fibras ramificadas que vão ligar o tecido conjuntivo aos tecidos adjacentes;
  • Fibras elásticas: feitas de elastina, vão conferir a elasticidade do tecido conjuntivo frouxo, complementando a resistência das fibras colágenas. São elas que vão fazer o tecido voltar a posição inicial após ser puxado.

Substância fundamental

Entretanto, todos esses componentes não ficam encostados um no outro no tecido conjuntivo, algo precisa estar preenchendo o espaço entre eles, e a substância responsável por isso é chamada de substância fundamental.

A substância fundamental vai ser responsável por preencher os espaços entre as fibras e as células, e vai possuir um alto teor de água. Ela é constituída de proteoglicanos e glicoproteínas.

Glicoproteínas e Proteoglicanos

Entre os proteoglicanos da substância fundamental, o mais destacável é o ácido hialurônico. E entre suas glicoproteínas, as principais são:

  • Fibronectina: vai fazer a ligação dos fibroblastos nas fibras e nos muitos outros componentes da matriz celular, assim ajudando também na mediação e migração de células. Por isso, ela apresenta função na cicatrização, fagocitose e coagulação.
  • Laminina: entre muitas outras coisas, o principal papel da laminina é fazer a ligação da lamina basal ao epitélio. Assim, ela vai atuar na adesão, migração, diferenciação e crescimento celular.

Fibras gengivais

Ainda falando do tecido conjuntivo da gengiva, temos as fibras gengivais, cujas funções são: promover a adesão da gengiva no dente, dar resistência a gengiva nas forças de mastigação sem que aja deslocamento apical e conectar a gengiva marginal a inserida e ao cemento. Essas fibras se dividem em:

  • Dentogengivais: Possuem formato de leque, e saem do cemento para as três direções, a crista marginal, gengiva inserida e periósteo. Na região entre os dentes, ela vai se dirigir para a gengiva interproximal.
  • Circulares: passam pelo tecido conjuntivo sem contato nenhum com o dente, formando uma fibra semelhante a um anel.
  • Interproximais (transeptais): essas fibras saem do cemento radicular de um dente para se inserir no cemento radicular do dente adjacente.
  • Dentoperiostais: saem do cemento radicular para o periósteo.

Conseguiu absorver o conhecimento?

É de suma importância para um dentista, ou estudante de odontologia, entender sobre as estruturas e suas respectivas funções no periodonto, já que é por meio dele que o dente vai usufruir de uma proteção e sustentação imprescindível para seu desenvolvimento e saúde.

Da mesma forma, se um dentista ou estudante não entender sobre as estruturas, ele pode acabar prejudicando o paciente mesmos em intenção. Por isso, compartilhe a postagem com quem você acha que precisa saber mais sobre esse assunto.

Fonte das Informações

(1) Newman M. G. Takei H. H. Klokkevold P. R. & Carranza F. A. (2019). Newman and carranza’s clinical periodontology (Thirteenth). Elsevier. Retrieved June 23 2023 from https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&scope=site&db=nlebk&db=nlabk&AN=1903217.
(2) Lindhe J. Lang N. P. & Karring T. (2008). Clinical periodontology and implant dentistry (5th ed.). Blackwell Munksgaard.

Como revisamos esse artigo:

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