Classificação de Kennedy + Regras de Applegate

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Marvin Guedes

Escrito e revisado por Marvin L. Guedes — Estudante de Odontologia no 8º Sem.

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A Classificação de Kennedy foi introduzida em 1925 pelo Dr. Edward Kennedy. Ela é uma referência amplamente utilizada para descrever os arcos edêntulos e é indispensável no planejamento da PPR e no entendimento em si da arcada dentária do paciente. Com base em minha experiência clínica, mais da metade dos pacientes que atendo possuem algum grau de ausência dentária, indo de um dente só (normalmente molar) a arcadas inteiras perdidas devido à cárie e outros fatores.

Essa classificação estuda a distribuição dos espaços edêntulos e dos dentes remanescentes na arcada dentária. Ela é fundamentalmente topográfica, o que significa que se baseia na localização e na extensão dos espaços desdentados, e não na quantidade de dentes ausentes em si. E é um sistema que se divide os arcos parcialmente desdentados em quatro classes principais:

Classe I de Kennedy: Desdentado Posterior Bilateral

A Classe I é caracterizada pela ausência de dentes posteriores em ambos os lados do arco.

  • Significado: Na classe I, o paciente apresenta áreas desdentadas posteriores bilaterais.
  • Padrão: Ausência de pilares posteriores. O paciente tem os dentes até o pré-molar e não possui dentes posteriores dos dois lados. (nem sempre é assim)
  • Extremo Livre: São dois extremos livres (ausência de suporte dental posterior).
  • Suporte Protético: A PPR indicada geralmente é dentomucossuportada.

Irei falar sobre isso posteriormente na postagem, mas é importante se atentar que sempre definimos a classe do paciente partindo da posterior para a anterior.

Classe II de Kennedy: Desdentado Posterior Unilateral

A Classe II refere-se à área desdentada posterior em apenas um lado da arcada.

  • Significado: Arco edêntulo unilateral.
  • Padrão: Apresenta apenas um pilar posterior. Os dentes posteriores do lado oposto e os anteriores estão presentes.
  • Extremo Livre: Há um extremo livre.

Classe III de Kennedy: Desdentado Intercalar (Lateral)

A Classe III é um espaço desdentado que possui dentes naturais presentes anterior e posteriormente ao espaço protético.

  • Significado: Edentado lateral ou intercalar. O espaço sem dente está entre dois dentes.
  • Padrão: O espaço protético está limitado por dentes adjacentes, criando um limite mais definido.
  • Condição Crucial: O espaço protético não pode ultrapassar a linha média.
  • Suporte Protético: Permite a confecção de PPRs dentossuportadas, o que oferece maior estabilidade. É neses tipo de PPR que fazemos o maior uso de grampos.

Classe IV de Kennedy: Desdentado Anterior

A Classe IV é utilizada para áreas desdentadas localizadas na região anterior.

  • Condição Crucial: Para ser Classe IV, a ausência de dentes deve cruzar a linha média.
  • Importantíssimo: Como analisamos a partir da posterior, se o paciente não tiver um segundo molar que seja, ele já seria uma outra classe.
  • Padrão: Edentulismo anterior com envolvimento da linha média.
  • Observação: A perda de apenas um incisivo central não é classificada como Classe IV de Kennedy. Se for um espaço anterior que não cruza a linha média, é provável que seja uma Classe III com modificação.

A Importância da Classificação no Planejamento Odontológico

A classificação de Kennedy é mais do que uma simples nomenclatura; ela é uma ferramenta prática que simplifica o planejamento protético e melhora a qualidade do tratamento. Se você é um estudante de odontologia, esse é o assunto mais perguntado nas provas de PPR, e se você já for dentista, todos os concursos cobram questões relacionadas a essa classificação também. Então caso você queira ver mais conteúdos sobre, dê uma olhada na plataforma de odontologia do Saúdeverso.

Benefícios Chave:

  1. Padronização e Comunicação: Fornece uma linguagem comum entre dentistas, técnicos de laboratório e outros profissionais.
  2. Facilidade de Diagnóstico e Planejamento: Permite avaliar rapidamente o estado do arco e ajuda a identificar o padrão de perda dentária.
  3. Escolha Protética Adequada: Orienta a escolha de dispositivos protéticos, ajudando a decidir entre próteses dentossuportadas, mucossuportadas ou dentomucossuportadas.
  4. Distribuição de Cargas: Ajuda a planejar a distribuição equilibrada das forças mastigatórias, prevenindo sobrecargas e complicações como mobilidade dentária ou reabsorção óssea.

Regras de Applegate

Como as quatro classes de Kennedy não são suficientes para cobrir todas as combinações de casos, em 1935, Applegate propôs regras adicionais para padronizar e tornar a classificação mais precisa. Elas funcionam como “regras do jogo” para garantir a classificação correta.

As 8 Regras de Applegate são:

Regra 1: Preparo Antes da Classificação

O arco só deve ser classificado após a realização dos preparos necessários, como extrações. Se uma classificação fosse feita antes de uma extração indicada, a classe poderia estar errada (por exemplo, passar de Classe III para Classe II).

Regra 2 & 3: Consideração do Terceiro Molar (Siso)

Se o terceiro molar estiver ausente e não for substituído (ou não for utilizado como suporte), ele não deve ser considerado na classificação. No entanto, se o terceiro molar estiver presente e for usado como dente pilar ou base de suporte protético, ele deve ser considerado.

Regra 4: Ausência do Segundo Molar

Se o segundo molar estiver ausente e não houver antagonista, o espaço não será considerado na classificação.

Regra 5: Dominância Posterior

A área edêntula mais posterior (a que está mais para trás) é sempre a que determina a classificação de Kennedy.

  • Exemplo prático: Se um paciente tem uma ausência posterior unilateral (Classe II) e também tem uma ausência anterior que cruza a linha média (Classe IV), o espaço posterior dita a regra. O arco será classificado como Classe II, e a perda anterior será considerada uma modificação.

Regra 6 & 7: Definição e Contagem de Modificações

Regra 6: Os espaços edêntulos adicionais, além daquele que determinou a classe (o mais posterior), são chamados de subdivisão ou modificação. Regra 7: O fator determinante do número de modificações é o número de espaços protéticos adicionais, e não a quantidade de dentes ausentes em cada espaço.

  • As modificações são citadas em algarismos arábicos (ex: Modificação 1, Modificação 2) para diferenciar da classe, que é citada em algarismos romanos (I, II, III, IV).

Regra 8: A Exceção da Classe IV

A Classe IV de Kennedy não admite modificações ou subdivisões.

  • Se um arco apresenta características de Classe IV (anterior cruzando a linha média) e também outros espaços edêntulos posteriores, a Regra 5 prevalece. O espaço edêntulo mais posterior ditará a classe (Classe I, II ou III), e o espaço anterior será classificado como modificação. Por isso, a Classe IV é sempre uma “Classe Pura”.

Entendendo as Modificações (Subdivisões)

As modificações são essenciais para distinguir casos com variações dentro da mesma classe. Elas são aplicáveis nas Classes I, II e III.

Classe de KennedyModificação 1 (Mod 1)Modificação 2 (Mod 2)
Classe I (Posterior Bilateral)Um espaço edêntulo adicionalDois espaços edêntulos adicionais
Classe II (Posterior Unilateral)Um espaço edêntulo adicionalDois espaços edêntulos adicionais
Classe III (Intercalar)Uma nova ausência intercalarDuas novas ausências intercalares
Classe IV (Anterior Cruzando Linha Média)Não admite modificaçõesNão admite modificações

É fundamental lembrar que a classificação é definida pela área edêntula mais posterior, e as demais áreas desdentadas são as modificações. A modificação é contada pelo número de espaços e não pelo número de dentes perdidos.

  • Exemplo: Se você tem uma Classe III (intercalar) e mais um espaço intercalar anterior, será uma Classe III Modificação 1. Se tiver três espaços adicionais, seria Classe III Modificação 3.

Limitações da Classificação de Kennedy

Embora sejam ferramentas indispensáveis, Kennedy e Applegate possuem algumas limitações que os profissionais modernos precisam reconhecer:

  1. Generalização: O sistema pode não capturar nuances específicas de casos mais complexos.
  2. Foco Topográfico: A classificação ignora fatores importantes como a qualidade dos dentes remanescentes, a condição periodontal, ou fatores estéticos.
  3. Exclusão de Implantes: Não aborda reabilitações que envolvem implantes dentários.
  4. Necessidade de Complemento: Em casos complexos, a classificação pode precisar ser complementada por sistemas auxiliares (como Cummer, Wild ou ACP) para uma análise mais detalhada e personalizada.

Como revisamos esse artigo:

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